Ando a vender muitas das minhas roupas e a comprar cada vez menos peças novas ou mesmo em segunda-mão. Pelo menos enquanto não vender o que tenho para vender, tenho resumido as minhas aquisições a roupa interior e a alguns básicos. Umas calças pretas em ecopele, um vestido camisolão branco, uma camisola cinzenta básica, uma tshirt branca, são as últimas entradas no roupeiro, e foram bastante consideradas. Preferência por confeção nacional, comércio de rua e marcas sustentáveis nacionais, mas que não me custem um rim.
As roupas para venda estão num armário no quarto de hóspedes, e cada vez que vendo uma peça lá vou eu libertar mais espaço, dobrar com carinho e enviar ao novo dono. É uma sensação maravilhosa. Hoje embalei um blazer com mais de dez anos que muito amava, mas que já não fazia sentido na minha vida. Teve o seu tempo, e agora vai fazer feliz a compradora Juliette.
Acontece que ao retirar o blazer, voltei a apaixonar-me por um vestido preto em excelente estado, praticamente não usado. Curiosamente, estava há bastante tempo para vender, como se o Universo na sua infinita sabedoria soubesse que eu ainda iria dar-lhe uma segunda oportunidade. E assim foi. Olhei e de repente voltei a gostar dele. Ao vesti-lo, percebi que uma das razões que me tinha levado a colocá-lo no armário das vendas eram umas tiras de tecido que tinha na zona do decote, então fiz aquilo que devia ter feito há muito tempo - peguei numa tesoura e zás, cortei-as, problema resolvido. Eu que percebo zero de costura (infelizmente), voltei a ter um vestido para usar muitas vezes após duas tesouradas.
É por isso que vale a pena entrar no armário e falar com ele, enfrentar todas as peças que lá estão, a começar por aquelas esquecidas, e não ter medo de mudar de opinião. Seja para ficarem ou para seguirem outro rumo. A sensação que tive hoje ao sair à rua com o meu “novo” vestido preto foi a mesma de quando saio da loja com um artigo novo, com a diferença que não gastei um euro.
Entretanto abro o Instagram e a primeira coisa que me apareceu foi um post da Orsola de Castro, líder da Fashion Revolution, com um das suas mais famosas afirmações.
“The most sustainable garment is the one already in your wardrobe”.
Tudo certo por aqui. #sincronicidades