Sabes quanto mereces ganhar não sabes?
A questão dos anúncios de emprego sem indicação do salário, a nova atração de Lisboa sobre o grande Terramoto de 1755, realidades paralelas, açúcar, hambúrgueres e outros ingredientes dos últimos dias
Esta semana vi um anúncio de emprego no LinkedIn com informação do salário. Achei o acontecimento tão raro que partilhei nas redes.
Não estava em causa se o ordenado a auferir é justo ou baixo, não é sobre isso que aqui me pronuncio, reconheci apenas uma boa prática que é, simultaneamente, tão rara.
Pelos vistos, ao contrário do que eu pensava, não é rara apenas em Portugal. Por alguma razão a câmara de Nova Iorque emitiu uma lei que obriga os empregadores a indicarem a faixa salarial nas ofertas de emprego que publicam. O objetivo maior é combater a descriminação de género, e outras, através da transparência salarial. E os defensores de legislação deste tipo (que existe também nos estados da Califórnia e Colorado) acreditam também que essa postura pode levar à retenção de talento nas empresas.
Concordo em absoluto. Atrair e reter talento, uma dificuldade cada vez maior das empresas em todo o mundo, começa logo pela oferta de emprego, e o quanto todos teríamos a ganhar se houvesse desde logo uma clareza na parte da remuneração a auferir, definindo pelo menos um intervalo salarial.
Porquê?
Um dos argumentos de quem não concorda comigo é que qualquer profissional deve saber o seu valor de mercado e quanto vale a sua função. Certíssimo. Mas o intuito de um anúncio de emprego com indicação salarial não é o de informar o potencial candidato do seu valor no mercado, é o de informar o potencial candidato do valor que a empresa tem disponível para a função e se o mesmo está alinhado ou não com a sua expetativa e, em última análise, se vale a pena enviar CV. Tão simples quanto isso.
E não, na maioria das vezes o candidato não tem interesse em concorrer só naquela de “vou ver” e ganhar experiência de entrevista; quem tiver essa postura, bastante legítima, pode fazê-lo na mesma. É como as pessoas que vão visitar casas que não podem pagar, há gostos para tudo.A empresa não precisa de perder tempo a entrevistar pessoas que poderão virar costas porque a oferta salarial é aquém do que imagivavam ou, pior ainda, só irão aceitar o trabalho porque precisam do dinheiro, sendo que dificilmente vão vestir a camisola e logo que possam saltarão fora.
Definir desde logo uma faixa salarial na oferta de emprego leva a que à partida só surjam candidatos que se encaixam no perfil e na experiência exigida, e que sabem qual o seu valor de mercado.
“O salário será avaliado de acordo com a experiência demonstrada”, ouve-se muitas vezes por parte dos empregadores, argumentando que o salário a oferecer dependerá do percurso do candidato. Não é que isso não deva ser considerado na seleção, claro que deve. A questão é que quando se define um cargo e as respetivas funções, objetivos e metas, já se sabe que tipo de perfil se quer e o que se quer tem um valor x. Todos os que apareçam fora dessa moldura facilmente serão excluídos. Ou seja, vida mais fácil para todas as partes envolvidas.
Porque é que não vemos mais anúncios de emprego com indicação do salário?
Há muitas empresas a contratar para uma função que serve para preencher vários buracos. Todos já o vimos, anúncios a pedirem uma pessoa-canivete-suíço, que tem experiência acima da média, que faz o trabalho de três departamentos, que domina todas as ferramentas e mais alguma, cuja contrapartida salarial é “integração em equipa jovem e dinâmica”, e quando se vai a ver nem 1000 euros líquidos tem para oferecer.
Não é apenas a clareza salarial nas ofertas de emprego que deve ser prática, é também a noção. Há anúncios ridículos, que evidenciam claramente a falta de direção estratégica e de organização interna do trabalho e dos recursos humanos.As empresas às vezes querem apalpar terreno, medir o pulso ao talento que anda por aí, conhecer novos talentos e, se calhar, depois até poderão fazer um esforço para pagar acima do que definiram, e por isso não se querem comprometer a fixar uma faixa de ordenado...
Esperava, honestamente, não ter de explicar como isso é perverso e inútil de ser feito através de anúncios de emprego. Boas empresas com bons gestores de talento estão em campo e usam várias atividades para descobrir o talento que aí anda; há eventos, há LinkedIn, há rede de contactos, há referências dadas pelos players dos respetivos setores, há empresas especialistas em scouting, há “olheiros”. Há também uma coisa chamada employer branding – comunicação interna e externa construída em torno da cultura de empresa e na sua promoção para atrair bons recursos.As empresas têm vergonha de dizer publicamente quanto têm para gastar. Algumas pessoas também já alegaram que é uma questão de privacidade, a mim parece-me que é também para não levantar ondas internamente, para que os trabalhadores não questionem e façam comparações.
Vamos lá a ver, qualquer empresa privada tem o direito a pagar os salários que entende e a fazer as distinções que entende, ora essa. Assumir isso é dizer: quem está mal muda-se. Então porque não enfrentar isso publicamente, e internamente dar o corpo às balas?
Frequentemente, critica-se o setor público por não fazer distinções e ganharem todos (dentro da mesma categoria profissional) pela mesma bitola, façam bem ou façam mal, criando pouco espaço para a meritocracia. Eu também o critico. Então, já que no setor privado é possível distinguir os ordenados, assuma-se.
Empresas há, sobretudo mais recentes ou a atravessar períodos muito difíceis, que não podem pagar o que gostariam. Assumir isso com total transparência e honestidade é a melhor atitude, pois poderão ser surpreendidas por algumas pessoas que querem apostar e crescer junto com a empresa. É que por vezes o salário inicial pode não ser famoso, mas há organizações que permitem uma maior e mais rápida progressão e recompensa, e devem distinguir-se por isso.
Em suma, a transparência salarial nos anúncios de emprego é uma ferramenta útil para recrutadores e poderá ser uma vantagem competitiva, porque o que distingue as boas das más empresas não será somente o nível dos salários, é também a forma como se comportam e assumem o que têm para oferecer e onde ambicionam chegar.
Por isto e por aquilo
Mais gostos do que desgostos
Quake, espere o inesperado!
Visitei este fim de semana o QUAKE , o mais recente museu de Lisboa, aliás, não é museu, é o Centro do Terramoto de Lisboa. Oferece uma experiência imersiva e um interessante discurso expositivo sobre um dos acontecimentos mais marcantes da história da cidade e do mundo. A catástrofe do dia 1 de novembro de 1755 transformou a capital portuguesa - à época a quarta mais importante da Europa, a seguir a Londres, Paris e Nápoles -, para sempre! Com recurso a um storytelling suportado pela melhor tecnologia, entretém e informa, e também sensibiliza para a importância de estarmos preparados para o inesperado, porque “sabemos que vai acontecer, só não sabemos quando”!
A Filomena Cautela a fazer serviço público do bom, sobre essa droga dura chamada açúcar
Todos os dias somos inundados de açúcar. E não são só os bolos e refrigerantes, o açúcar está onde menos se espera - dos sumos de fruta às granolas e açaís da cena healthy lifestyle "sem açúcares adicionados", nos enlatados ou em alguns tipos de pão. Se não soubermos ler os rótulos, por entre os corredores de supermercados cheios de produtos processados, corremos o risco de comprar mau por saudável.
A classe médica, finalmente, começa a meter o dedo na ferida; os nutricionistas começam enfim a ser ouvidos; e talvez pais e educadores comecem a perceber que o mal não está apenas no tabaco e nas drogas. O açúcar mata.
Ora, mas eu sou uma seca a falar disto.
Se não deram pelo programa Providência Cautelar da Filomena Cautela dedicado ao tema, no sábado de aleluia, andem para trás na box ou vão à RTP Play. Excelente serviço público.
“Tudo em todo o lado ao mesmo tempo”
Tenho um fraquinho pelo tema do Multiverso, por isso, assim que li a sinopse a caminho da bilheteira, sem nunca ter sequer ouvido falar do filme, não hesitei. E que boa supresa foi! "Tudo em todo o lado ao mesmo tempo" é uma excelente alucinação sobre realidades paralelas e tudo aquilo que podemos ser numa só vida, com a magnífica Michelle Yeoh a personificar uma das maiores dúvidas humanas “e se eu tivesse feito de maneira diferente?” Apesar de envolver muitas lutas é uma mensagem de gentileza e bondade, com os outros e connosco. Na mouche.
Rice me, Rice you, Rice us
Para quem não pode comer glúten, degustar certas comidas fora de casa não é ainda tarefa fácil. É o caso de um bom hambúrguer naqueles dias em que o corpo não quer salada nem taças de quinoa. Soube-me pela vida o último almoço no Rice Me - restaurante e deli, refúgio para celíacos, intolerantes e todos os que não sendo nenhuma dessas coisas gostam de boa comida, onde o arroz (naturalmente isento de glúten e alimento preferido de uma grande fatia da população mundial) é rei. E em dias em que a indulgência atinge picos máximos, dá para comer coisas gluten free que não encontramos nas pastelarias normais – palmiers, tostas mistas, empadas, croquetes...entre outras iguarias.
Benefício de Prata
O Gin de Flor de Cânhamo Benefício alcançou três medalhas de prata na London Spirits Competition! Com menos de um ano no mercado, e a concorrer com mais de 700 gins a concurso, é um grande feito.
Fiquei feliz e a felicidade é para ser partilhada, tal como o Benefício, que deve ser sempre de todos! A marca nasceu da paixão dos seus fundadores – eu bem sei, que a testemunho diariamente - e cada produto que edita segue os princípios da originalidade, sutentabilidade e compensação económica justa de todos os que estão envolvidos na sua produção.
Herbal, Estival ou Delicado, difícil é escolher!
Arte urbana campestre
É uma tendência em algumas parte do mundo e eu gostava de ter uma casa com um muro assim:
Móveis feitos a pensar na separação de bens no divórcio? Existem.
Partir ao meio, sem recurso à lei do rei Salomão, é possível e fácil.
Dica da semana:
Como consumir menos e não ter roupa que não se usa a encher o armário? Eu faço assim (no online, é o equivalente à secção de favoritos).
Bye Bye, Dudes
Para finalizar, o meu novo mantra para sobreviver às redes sociais e à vida em geral. A tentar…
Adoro a clareza e fluidez na exposição das tuas ideias 👍