Os indispensáveis
Até poderás ser indispensável toda a vida, mas sê sempre uma pessoa substituível.
“The critical mistake you made is that you became indispensable,” a mentor once said to me. "That’s why you can’t get off his team and move on to your next assignment."
Mita Mallick
O artigo publicado na Harvard Business Review é uma boa reflexão sobre a nossa atitude no trabalho e de como uma pessoa tornar-se indispensável pode impedi-la de avançar na carreira e na vida.
Confundimos muitas vezes lealdade e eficiência com a incapacidade de dizer não e a tendência a absorver tarefas que podem perfeitamente ser distribuídas por todos.
Sou uma dessas, das que se tornaram indispensáveis a determinada altura, porque “se vejo as coisas para fazer e sei fazer, bora lá”, e se o chefe pede, como desiludi-lo? Não estou a vitimizar-me, dá jeito ao nosso ego ser elogiado e ser considerada uma pessoa-chave na empresa, uma pessoa sem a qual a empresa ficará pior.
São muitos os que ambicionam ser o Cristiano Ronaldo da equipa. Mas nem sempre (quase nunca) os indispensáves ganham como o CR7. Tal como os cemitérios estão cheios de insubstituíveis, também as organizações têm pessoas amarradas a missões das quais não se conseguem desembaraçar e, até ao dia em que decidem finalmente sair (os que conseguem), estão em permanente luta com o desejo de avançar para outros projetos e o sentido de dever, de “não deixar a equipa na mão”.
Se és uma dessas pessoas, por favor, escuta-me: a não ser que trabalhes com pessoas merdosas (e vamos acreditar que não trabalhas, porque há muito boa gente por aí), é mais fácil sair do que pensas e os outros vão ficar tristes e sentir a tua falta, mas também te vão dar força para prosseguires noutros caminhos.
E se saires a tempo, logo que ganhas vontade de mudar de vida, antes de te sentires ressentido e cheia de sentimentos de incapacidade e paralisação, vais sair bem, com dignidade, deixando o caminho preparado para quem te vai seguir no lugar que agora deixas livre. E como bónus até podes ficar com amigos para a vida.
O que eu quero dizer-te, pessoa indispensável, é que está tudo na tua cabeça; não te limites por medo de desiludir ou comprometer o sucesso dos outros. Até poderás ser indispensável toda a vida, mas sê sempre uma pessoa substituível - partilha conhecimento, fala da tua experiência, delega tarefas, deseja para os outros o que desejas para ti.
Nenhuma organização sobrevive sobre os ombros de apenas uma ou duas pessoas. As empresas devem ser entidades com missão e valores muito claros e transversais às diversas lideranças, mas preparadas para acolher diferentes pessoas ao longo da sua existência.
A sobrevivência dos negócios e das organizações do futuro vai depender dessa permeabilidade e abertura a mudanças constantes de recursos humanos, sem que isso prejudique a sua missão ou crie uma imagem de instabilidade ou uma má reputação.