O inferno de comprar online em Portugal
A inovação está no serviço ao cliente, senhores empresários. Escrevam isto 100 vezes no quadro do escritório.
Queria comprar uma secretária. Então perdi-me pelas páginas do Instagram de móveis vintage e ainda passei pelo OLX onde marquei três secretárias nos favoritos, que na verdade nunca irei comprar, porque a cena de ir levantar a casa do vendedor é grande desbloqueador de preguiça. Eu não sou uma pessoa de ter carrinha, nem de ter amigos com vocação para ter carrinha. E encontrar uma empresa que faça esse serviço sem que o mesmo custe uma mudança de casa inteira?
Nas quase duas horas a dar ao dedo, não encontrei nada do que queria ao preço que queria. A informação quase nunca é completa, há lojas e marcas que insistem em não facilitar nada a vida ao consumidor. É por isso que na internet encontra-se muita coisa que não se consegue comprar. É um repositório de desejos muito dificeis de cumprir, não tanto pela falta de dinheiro – embora curiosamente o que é muito caro seja sempre mais fácil de comprar -, mas pela falta de um bom serviço de apoio ao potencial comprador.
“Entregamos em 24 horas”, mentira, vai-se a ver e estão fechados ou não atendem o telefone. “Envie-nos um email”, enviamos e nunca respondem. “Saiba mais”, clicamos e nada, dá 404. “Visite-nos!”, com certeza, então e o horário? E a morada?
Tantos negócios que podiam ser bons se tivessem um site como deve de ser e redes sociais que informam e conduzem o cliente à compra. E quando colocam peças à venda sem indicar o preço? Porquê, senhores? Para termos vontade de ir saber mais? Nós queremos saber logo. Não nos façam perder tempo, nem percam tempo.
A primeira falência em Portugal é a do serviço ao cliente e da usabilidade dos canais digitais das marcas. Na ótica de muitas empresas de retalho, o seu produto é para quem quer, e quem quer tem de querer muito e dar-se ao trabalho de fazer tudo para ter o privilégio de comprar.
O privilégio de vender é que é Vosso, caros empresários.
A inovação está no serviço ao cliente. Agora ide escrever isto 100 vezes no quadro do escritório.
P.S. - acabei por comprar a secretária… (sim, podem rir) no IKEA. Mais uma vez um puzzle caro que me saiu caro. Digamos que foi o equivalente a comprar uma camisola, mas na caixa vinha um kit com agulhas de tricotar e um novelo de lã. E o R. ainda teve de carregar um caixote pesadíssimo, pois o serviço de entregas do IKEA também me parece atualmente muito mais complicado do que outrora. Cada vez mais o IKEA é uma espécie de marca sádica para pessoas com tendência a punirem-se pelos seus pecados.
Adorei o último parágrafo! Na verdade, ser consumidor é no final de contas, um verdadeiro atentado á nossa sanidade mental... 😞