O Festival da Eurovisão é um evento político, claro que sim, como não?
Eu sei, eu sinto, que aquilo que vocês precisam hoje é de mais um post sobre a Eurovisão.
Sendo assim:
Que para o ano todos os países ajudem a fazer a cerimónia na Ucrânia. Que possa ser um espectáculo bonito e à altura do simbolismo que o povo votante quis dar a esta edição.
É um evento de cariz político? Pois claro que sim, 40 países europeus e de diferentes costados (menos dois que não o são) entram num espectáculo competitivo de canções e queriam o quê? A Ucrânia deu 12 pontos a quem lhe pode dar ajuda militar e 10 pontos a nós, que damos colo. Alguma coisa errada aqui? Nada. Israel não passou à final (era o que faltava) e a Islândia sacou de uma bandeira da Palestina. E não há mal nenhum nisto tudo. Bandeiras ao alto. Opiniões ao alto, sejam elas quais forem, e pagam uns pelos outros se tiver de ser.
A Europa tirou o Reino Unido do castigo "there, there". Come as you are!
Espanha deve ter-se vingado dos últimos anos em que nos deu bué pontos e nós pouco ou nada demos (eu fixo estas coisas, deixem-me lá). É a vida ibérica, a pelear desde o século XIV. O júri italiano (que dor) não nos deu nada, mas a Laura Pausini (que está em grande forma, diga-se) dava-nos tudo se pudesse. Tanto a Espanha como a Itália, btw, deram-nos pontos no voto do público; só para não desataram já a tratar mal a malta dos trolleys por essa calçada portuguesa afora.
Queria ter ouvido um medley (adoro esta palavra) das canções italianas da Eurovisão, no fundo, a desculpa para ouvir a minha preferida de todas - "Insieme" do Toto Cutugno, vencedora em 1992. Uma canção sobre a Europa unida. Ide ao YouTube relembrar, é vintage.
Fiquei contente com o 5.º lugar do júri para a nossa Saudade, Saudade - muito perto da unanimidade dos países para a sua qualidade, com vários segundos lugares e muitos top cinco -, e fiquei francamente desiludida com os votos do público. A Maro e as suas guerreiras mereciam mais.
Gostava sinceramente de saber o que passou pela cabeça dos jurados portugueses (não os considero em geral pessoas desprovidas de bom gosto), para darem 12 pontos à canção espanhola. Bolas, aquilo é mau, e não é por eu ser purista da música, que o meu Spotify parece o de uma pessoa com transtorno de personalidades múltiplas, e gosto de uma sacudida latina quando é boa de má - mas a canção da Espanha é má de má.
Ah mas as canções são todas más. Não são. É injusto dizer isso. Havia ali umas cinco jeitosas. Parecidas com o que já ouvimos? Ó senhores há o parecido bom e o parecido mau. O parecido bom é o que nos dá conforto e leva para a pista de dança ou nos embala, ou nos faz querer escrever posts e tweets e mensagens no Whatsapp a esgrimir gostos e comentários.
Organizamos eventos internacionais muito melhor do que a Itália. Só por isso merecíamos ganhar ano sim, ano não. Não sei o que nos sucede, acho que em matéria de organização de festas de alto gabarito somos uma espécie de alemães sob o efeito de substâncias epifânicas. Corre sempre bem.
Já lá vai o tempo em que não recebíamos pontos nem qualquer tipo de destaque. Não sei se foram as canções que melhoraram, levámos muitas canções boas no passado, não acho que seja isso. Mudou a imagem de Portugal no mundo. E essa glória é nossa e das gerações mais novas. E das redes sociais, e da abertura de fronteiras, e de um caminho de tolerância e diversidade que, nem sempre bem e nem sempre mal, temos todos europeus vindo a trilhar. Portugal, pela sua vocação global, tem beneficiado disso, e com um empurrãozinho do turismo e da economia digital, já não vivemos tempos em que ganhar é uma ilusão. As formigas ganharam catarro.
Por isso tudo, é claro que o Festival da Eurovisão é um evento político. O que é que não é política meus amigos?
Vivemos de euro-visões.