Aconteceu ontem mais um dia de São Valentim. Num tempo de estudos preocupantes e notícias assustadoras sobre a violência no namoro, na tv, na escola e nas casas de família, foi bom ler nas redes sociais comentários e reflexões lúcidas sobre a importância do amor próprio, da desdramatização de estar solteiro e das relações saudáveis.
No rescaldo do dia, lembrei-me de um outro lado B do tema: sobreviver ao fim de um amor ou de uma promessa de amor.
Há relações que dão errado, há pessoas que acabam com as outras por email, por sms e por desaparecimento em combate, há muitos amores não correspondidos e em resultado disso há muitos homens e mulheres de coração partido que só querem desesperadamente uma coisa – deixar de gostar de quem os faz sofrer.
É por isso que todos já ouvimos ou dissemos: como é que eu deixo de gostar de fulana ou sicrano? Como é que tiro essa pessoa da minha cabeça?
Há alguns anos comecei a responder: não deixas, não tiras.
Como assim?
Se pensas nela antes de dormir, ao levantar, quando tomas banho, quando comes, quando vês um filme, quando sais com amigos, quando estás no almoço de família, quando respiras, então pensa. Se ainda gostas dela, então gosta. Se não a consegues esquecer, então não esqueças.
A famosa frase Aquilo a que se resiste, persiste, atribuída a Carl Jung, diz tudo.
Como podemos esquecer aquilo que estamos sempre a lembrar que temos de esquecer?
Se dissermos a uma pessoa para não pensar em balões azuis, a pessoa vai ficar a pensar que não pode pensar em balões azuis, logo terá a mente inundada de balões azuis...certo?
Se deixarmos de ocupar a mente a querer deixar de gostar, e simplesmente aceitarmos o facto de que gostamos e isso não tem mal nenhum, com o tempo tudo não passará de uma memória, doce ou amarga, mas apenas uma memória.
Quanto mais resistimos a um sentimento e fugimos às nossas emoções, mais perto estaremos de nos confrontarmos com elas da pior forma, sob a forma de ressentimento, obsessão, minando tudo e todas as oportunidades de felicidade à nossa volta.
"You are what you love, not what loves you."
Charlie Kaufman
Do outro lado desta nossa conversa sobre como sobrevivermos ao fim de um amor, ou da esperança de um amor, reside uma incerteza muito bela caso a consigamos provar um dia: amar é sempre melhor do que o oposto.
Podemos ser infinitamente mais felizes se focarmos a nossa existência em gostar em vez de gastarmos energia em não gostar. Não gostar não atenua nenhum sofrimento, apenas o esquecimento consegue essa proeza. Mas esquecer não é para todos, nem está provado que nos faça bem.
Gostei! Como sempre! Cada um dirá: concordo, ou não concordo... falará sempre a experiência individual...
👏👏👏👏 não concordo com tudo o que escreveste, mas dou-te os parabéns pela atitude opinativa. ❤️❤️