Descobri o meu exercício
Vinha na rua, a carregar as minhas cruzes e deformidades corporais agravadas pelas más posturas cultivadas durante a pandemia, quando vi aquela sala com bom ar e entrei.
Sendo totalmente honesta, não gosto de exercício físico e muito menos de ginásios. Destesto todo o ambiente, os odores, o sofrimento da maioria e o entusiamo de muitos. Na alegria e na tristeza são sítios que evito. Nem sempre foi assim, mas mesmo quando frequentava regularmente, há três reencarnações, nunca fui fã.
Contudo, em 2021 tomei uma das melhores decisões da minha vida – comecei a fazer Pilates. Daquele à séria, o autêntico, como se diz, com máquinas segundo os desenhos originais do senhor Joseph Pilates.
O estúdio, reparem não se chama ginásio, parece uma sala de estar com máquinas que embora pareçam instrumentos de tortura (não estará muito longe da verdade; Joseph Pilates inspirou-se nos benefícios corretivos, digamos assim, de algumas cadeiras e estruturas usadas em prisões e campos de concentração) têm um ar agradável e confortável, ao nível do melhor design de mobiliário.
Vinha na rua, a carregar as minhas cruzes e deformidades corporais agravadas pelas más posturas cultivadas durante a pandemia, quando vi aquela sala com bom ar e entrei. Desde então, já lá vão quase 10 meses, tenho ido religiosamente à aula com a professora Natalice.
Juro-vos, é a primeira vez que saio de casa com vontade de ir fazer exercício. Não é só por ser bonito o espaço e estar perto de casa, é porque é de facto um exercício em que estamos nós e o nosso corpo em confronto mas sem conflito, num ritmo que é suposto dar tempo ao cérebro e a cada célula do nosso corpo para registar novos e corretos movimentos e posturas. Aprender a controlar, a alinhar, a crescer, a saber onde apoiar, a esticar com sentido, a alongar devagar mas com pressa de chegar. A sentir. Parar. Focar.
Nenhum exercício durante aquela hora, que passa a correr, é demorado; são muitos exercícios com poucas repetições, o que faz com que também não nos cansemos das posições. E depois há o silêncio. Nada de gritos histéricos, de pulos, de música tipo urban beach, nem sequer gotinhas de chuva ou árvores a abanar com o vento (isso deixo para as minhas meditações), apenas e só a voz da professora Natalice que está ali apenas para mim, atenta aos meus limites e necessidades, e me conduz com suavidade e assertividade rumo a uma melhor versão de mim mesma.
Ainda não cheguei aonde quero. Vai demorar. Há anos, anos!, que nada fazia além de caminhar e andar de bicicleta nas férias, por isso está a demorar mais, mas cada dia que faço é bom e são mais uns milímetros que dou à minha saúde e bem-estar.
Entendam isto não como um conselho e sim como uma partilha muito sincera de quem descobriu finalmente um exercício de que gosta: encontrem uma modalidade que vos dê prazer (relembrar o que mais gostavam de fazer em crianças pode ajudar a dar pistas) e comecem o mais rapidamente possível a fazer qualquer coisa pelo vosso corpo que melhore a vossa condição física e vitalidade. Juro que não se arrependerão e é das melhores técnicas anti-aging em que poderão investir.
P.S. - Cuidado para não treinarem à maluca, sem orientação médica e sem uma avaliação física prévia, pois muitas práticas e modalidades que por aí andam fazem mais mal do que bem.