Acredito que a melhor forma de viver é procurar o caminho mais fácil, porque não é por custar muito a fazer que vai criar mais impacto. Ou seja, não é por ser mais fácil que será menos impactante na nossa vida e na vida dos outros.
A vida custa, exige esforço, abdicação, escolhas, perdas, desgostos. Custa-nos muitas vezes a saúde, física e mental. Custa-nos pessoas, que saem da nossa existência para a morte ou para outros caminhos que não mais iremos partilhar.
A vida é difícil. A vida não é um mar de rosas, cheio de frases inspiracionais do Instagram e eternos pores do sol. Há dias que são um suplício, há dias de tanta dor e desespero que nem sentimos que estamos a respirar, há acontecimentos aos quais ainda não sabemos como foi possível sobrevivermos, ou como vamos sobreviver. Neste momento, há pessoas que não conhecemos que estão a passar por sofrimentos excruciantes.
A vida é difícil e precisa de soluções para problemas. E precisa de mais negócios e mais pessoas que a simplifiquem e que a tornem mais tolerável e justa para todos. Precisa, como agora se diz muito, de mais ideias e projetos de impacto positivo.
Há um desenho de que gosto muito e que resume o que mais ambiciono para a minha vida e para a vida dos outros na área profissional e em todas em geral:
Fonte: The Effort Impact Matrix
Esta matriz é muito comum em gestão de empresas para gerir prioridades e o desempenho de equipas, e aumentar a sua eficácia, mas é perfeitamente aplicável à vida pessoal.
De forma simples, lê-se assim:
Baixo-Esforço-Alto-Impacto (canto superior esquerdo)
Aqui estão as tarefas e projetos que têm o maior impacto sem muito trabalho extra. Este é o quadrante em que queremos estar, onde todos ganham.
Alto Esforço-Alto Impacto (canto superior direito)
Essas são as coisas que geralmente nunca conseguimos fazer, porque são muito difíceis, e há muito barulho e agitação no meio. Sugere-se ter apenas um pequeno número de coisas aqui, pois exigem foco recorrente e tendem a exigir esforço de longo prazo.
Baixo-Esforço-Baixo-Impacto (canto inferior esquerdo)
Algumas das tarefas aqui são inevitáveis, mas são o tipo de coisas que podemos fazer quando estamos mais cansados, ou podemos adiar (caso sejam impossíveis de descartar definitivamente).
Alto Esforço-Baixo Impacto (canto inferior direito)
Se tivermos muitas, muitas coisas neste quadrado, então temos de facto um problema e há que refletir a sério sobre como pararmos de nos concentrar nessas tarefas, avaliar as consequências e libertar tempo e energia para nos focarmos em projetos de baixo esforço e alto impacto.
Mais impacto, menos esforço. É isto!
Se pudermos alcançar melhores coisas com o mínimo de esforço, porque não? Se pudermos ter um impacto maior com menos dispêndio de energia e de tempo, não será melhor para a nossa saúde, relações, estabilidade financeira e planeta?
Nem tudo tem de ser sangue suor e lágrimas, porque já bem basta tudo aquilo que tem de ser com sangue, suor e lágrimas.
O caminho mais fácil não é preguiça. O caminho mais fácil não é egoísmo. O caminho mais fácil não é seguirmos tentações ou afundar-nos em vícios.
O caminho mais fácil começa por sermos mais gentis connosco e não estranharmos quando algo nos custa menos a fazer.
O que quero então dizer com isto de não fazermos o caminho mais difícil? Alguns exemplos:
Continuarmos a fazer coisas da maneira que os nossos pais e avós faziam, só porque os admiramos e foi assim que nos ensinaram. Se fizermos de maneira diferente e mais simplificada não significa que não os respeitemos a eles e à herança familiar, não significa que da nossa maneira não terá tanto valor.
Fazer noitadas no trabalho e abraçar todas as funções e tarefas para provarmos que somos dedicados e leais, quando poderíamos empregar a nossa energia em partilhar experiência e conhecimento com outros, ajudando a distribuir e delegar competências. (Serve também para os gestores e líderes).
Colocarmo-nos deliberadamente em situações difíceis e que nos violentam só para provarmos aos outros que somos bons. Não, não temos de ir para cima do palco cantar ou fazer um discurso se essa não é a nossa natureza. A não ser que queiramos, por nossa vontade própria, arriscar algo diferente e ultrapassar uma barreira, nunca devemos deixar que sejam os outros (ou a ideia que criámos do que os outros querem de nós) a empurrarem-nos para situações que nos deixam desconfortáveis.
Corresponder à imagem que os outros construiram de nós com base nos sinais que lhes fomos dando. Nunca é tarde para dizer “olhem, não sou bem assim” “mudei”, “finalmente encontrei a minha verdade”. “Queridos, encolhi o ego!”
O ego é dos principais responsáveis por queremos fazer o caminho mais difícil.
O ego, podemos dizê-lo, é fodido. Se confrontarmos o ego, reconhecendo-o “olá, eu sei que estás aí e agradeço o teu empenho em fazeres de mim um pessoa importante e ocupada, mas agora não preciso de ti. Eu posso fazer isto desta maneira e não serei menos nem mais por isso. Podes ir”.