Amigos, amigos, opiniões nunca à parte
Devemos sempre dizer o que achamos aos nossos amigos - mesmo que custe dizer, mesmo que pareça intromissão
Como se diz a um amigo que nos confidencia que está a sofrer no casamento e que já não é feliz que o melhor é separar-se?
Diz-se dizendo, claro. A questão é se vale a pena dizer-lhe, se devemos sequer estar a meter-nos no assunto.
Eu acho que devemos. Ele - ela, eles - irá sempre ouvir o que lhe interessa, decidir o que tem a decidir, quando tiver de decidir, independentemente do que digamos e da nossa opinião.
Os amigos são como as placas que indicam os caminhos na estrada, estão cá para sinalizar o percurso, ajudar a perceber por onde se pode ir, mas quem decide é sempre o condutor. A voz do GPS também diz para virar à direita, esquerda, ir em frente ou fazer inversão de marcha, mas o carro vai por onde o dono o leva. Se a coisa correr mal, ninguém vai pedir contas às placas ou ao GPS; mesmo que o GPS falhe, a responsablidade é sempre do condutor, que deveria ir mais bem preparado, que podia parar e perguntar, que podia ter um mapa no porta-luvas.
Assim é com os amigos, não podemos responsabilizá-los pelas nossas escolhas “porque tu me disseste para fazer assim e eu fiz”. Devemos, ao invés, agradecer-lhes, “obrigada, por me teres dado força, obrigada por me teres dito aquilo”.
Quando digo que devemos sempre dizer o que achamos aos nossos amigos - mesmo que custe dizer, mesmo que pareça intromissão -, é para que fique bem claro qual é a nossa função enquanto placa de sinalização. E convém que não tenha a tinta desmaiada ou esteja borrada de grafitis. Deve ser bem visível, estar no sítio certo à hora certa.