Cinquenta anos de vida é muito tempo, e eu completei-os em novembro. Mesmo sendo otimista, sei perfeitamente que a primeira parte da existência, a mais viçosa e trepidante, já lá vai. Sendo realista, é uma parte de que sinto falta:
pelas promessas dos 20’s, em que o tempo todo que temos pela frente é um bálsamo para a procrastinação da juventude ou para os disparates feitos na pressa de viver;
pela vaidade dos 30’s, a melhor década, a meia idade da juventude, em que somos os adultos que sabem ser jovens, acumulámos conhecimento e ainda nos resta muito tempo para aprender mais, e o corpo responde bem aos nossos standards de beleza;
pelas certezas dos 40’s, quando aproveitamos para corrigir ou aprimorar algumas coisas dos 30’s e vivemos gloriosamente o “já não me importo com certas coisas”, apesar de sentirmos o peso da idade e percebermos, então, de verdade, que tudo passa tão depressa e os 50 estão já ali;
E os 50 chegaram.
Aqui balançamos muito. Acreditem, balança-se muito mais aos 50 do que quando fazemos os 40.
Aos 40 ainda é um bocado uma brincadeira, é a terceira idade dos 30’s.
Os 50, por seu turno, são a infância da velhice. A creche, pronto, para não ser tão dura. E se bem me lembro, a primeira parte da vida passa d-e-p-r-e-s-s-a demais.
Assim, a primeira coisa aprendida que quero partilhar convosco é: não vale a pena a mania da perfeição.
#01 Feito é melhor do que perfeito
Ou do original em inglês: “Done is better than perfect.” Há várias disputas pela autoria original da frase, eu acredito, e é do consenso alargado, que é da Sheryl Sandberg. Uma das mais espetaculares mulheres do mundo da tecnologia, pilar de “a rede social”, filantropa, bilionária, reconhecida pela sua resiliência. ”The seeds of resilience are planted in the way we process the negative events in our lives”, disse ela.
O meu querido amigo João dizia-o muitas vezes. Vários empreendedores dizem-no frquentemente, também por causa dele.
Não tem nada a ver com fazer as coisas atabalhoadamente ou primar pela mediocridade. Nem tão pouco com falta de brio. Tem a ver com não perdermos tempo.
Se tivesse de fazer uma lista das ideias e empreendimentos que ficaram para trás na minha vida por achar sempre que não eram bons o suficiente… ficava deprimida. E fico.
Tendemos a ficar presos na ideia de que ser perfecionista é uma coisa boa, um adjetivo bonito para colocar no CV e discutir à mesa. Não é.
Querer fazer bem feito não é a mesma coisa do que só querer fazer se for perfeito.
Parte da beleza de fazer, e viver com o que se fez, é aceitar que poucas são as coisas na vida que estão prontas a 100%. Uma casa nunca está pronta, há sempre um quadro que queremos mudar de sítio, as almofadas que precisam de ser reorganizadas, a cor das paredes que ao fim de um tempo almejamos mudar. Um negócio ou uma criação nossa também são assim. Aposto que muitos artistas e autores que têm de cumprir datas e atirar para a rua um livro ou uma coleção de moda sentem muitas vezes que se agora fizessem já fariam de maneira diferente, e melhor.
Nós somos seres constantemente à procura de edição e re-edição. E abençoados os que aceitam isso e não cristalizam. Os que fazem e arriscam mesmo sabendo que não está perfeito e provavelmente nunca estará, e se sujeitam ao olhar e às palavras críticas dos outros; os outros, e as suas opiniões, esse inferno na terra que tanto tememos.
Não interessa a vossa idade, vão com tudo! Dêem o vosso melhor, mas não deixem de fazer e mostrar só porque dizem a vós mesmos “ainda não está perfeito”.
Vantagens:
só fazendo e mostrando se recolhe feedback e se pode perceber o que funciona e o que não funciona, e como pode ser melhorado. Ou seja, se não arriscarmos nunca vamos saber se, e como!, vale a pena continuar.
se não der certo, tiram logo daí as ideias e dedicam-se a outra criação, em vez de andar meses e anos a aperfeiçaor uma coisa que nunca funcionará ou trará os resultados que ambicionam.
Às vezes também pode resultar durante um tempo e depois acabar. Nada dura para sempre, nem o bem, nem o mau, daí termos de estar sempre prontos a aceitar a mudança e as contínuas exigências de re-edição pela vida.
Só quem muda prospera.
A aparente incoerência de mudarmos de opinião ou de rumo na vida é o que sustenta o nosso envelhecimento. Não ter medo, ou vergonha!, de mudar é o equivalente a não ter medo de ser imperfeito. Tantas dores e traumas nos podem sair de cima quando aceitamos isso.
A eterna juventude é capaz de ser isso.
Feito é melhor do que perfeito!
Palavras de quem tem feito com o intuito de fazer cada vez mais perfeito 👍